M.: “De repente, um telefonema mudaria minha vida, mudaria nossas vidas. A decisão de adotar, tomada há pouco mais de dois anos, não foi fácil, haja vista o motivo que a desencadeou – um misto de impotência e frustração. Um quê físico e outro, enorme, psíquico. Completada a fase protocolar da candidatura à adoção, sinceramente bem mais complexa e árdua do que jamais imaginei, os dias pareciam semanas e as semanas, anos. A ansiedade passou a ser a ordem do dia. Ela vinha de dentro pra fora em espasmos e, com tom de cobrança, de fora pra dentro. Para minha sorte, toda essa angústia desapareceu instantaneamente, mas foi deliciosamente temperada pela taquicardia e sensação de sufocamento, quando nos relataram que havia não uma, mas duas “crianças”. Mais do que isso, havia dois bebês, irmãos gêmeos bivitelinos de oito meses. Parecia um discurso de filme ou novela – “só pode ser brincadeira, né?!!??”. As fotos exibiam bebês lindos e, curiosamente, um deles era a minha cara!!! A pergunta a seguir, “vocês querem?”, seria facilmente respondida, “sim, nós queremos!!!”. Era como se fosse o “pedido original”, até dois irmãos, até dois anos de idade e saudáveis. Achei que não poderíamos/deveríamos ter acesso a tantas informações absolutamente técnicas sobre o passado de ambos. Tivemos. Isso me tranquilizou.
Pronto, temos dois meninos, nossos filhos. E cadê eles? Vamos levá-los agora? Podemos, ao menos, vê-los. Ouvi um “calma, gente, calma!!”. Pensei “não, freios agora não!!!”. Deixaram-nos para escolher os nomes, digo, os novos nomes. Puxa, parecia uma gincana. Minha esposa sempre quis nomes compostos. Sugeri vários ao longo de mais de uma década de “como vão se chamar os nossos filhos?”. Todos foram reprovados. A rigor, pensávamos sempre em um casal. “João Guilherme” e “Pedro Henrique” ou “João Gui” e “PH” nasceram até que rapidamente. Temi pela eventual dupla sertaneja. É incrível como uma miríade de pensamentos, na forma de tsunami, alguns até inúteis, explodiram na minha cabeça. Não tem mais volta, serão eles! São eles! As lágrimas? Aquelas Eu praticamente as saboreei! Bem, o que veio consequentemente foi a parte mais complicada da “gincana”, algo como o programa do Roberto Justus. “Vocês só precisam trazer as roupinhas para amanhã”. O quê? Amanhã? Beleza! Tá, mas e o resto? O “resto” Eu só entendi ao entrar numa loja de produtos para bebês. Inocentemente, achei que fosse apenas um par de berços e mamadeiras, além das roupinhas, é claro. Não! Fui apresentado a babitas e colherzitas de silicone e outras tantas coisitas, oferecidas por sedentas vendedoras que, naturalmente, se aproveitaram de pais “bobôs” de felicidade! O quarto de hóspedes se transformou, em menos de vinte e quatro horas, no quarto dos meus filhos! E a avalanche continuou em forma de novos horários, choros – choro da fome, choro da sede, choro do sono, etc. – mamadeira, suquinhos, xixi, cocô, fraldas, fraldas, fraldas e mais fraldas. Nossa família enlouqueceu! Nossos amigos choraram conosco! Quando dizem que a casa mais vigiada do Brasil é a do BBB é porque não conheceram a nossa. A notícia se espalhou mesmo sem a internet. Por enquanto, as fotos e vídeos saciam os curiosos. Digo a todos que eles são palmeirenses. Se Eu fosse um poeta ou um romancista, seguramente escreveria melhor e, talvez, mais. No momento, entretanto, quero dizer que estou muito feliz e já posso responder à pergunta que minou minha tentativa de felicidade plena nos últimos anos, qual seja, “você tem filhos?”. Sim, tenho dois, dois meninos, João Guilherme e Pedro Henrique. Eles farão nove meses no dia dezesseis de junho. (a)M B M S.Cascavel, Paraná, 11 de março de 2012.
L: Tudo começou com um telefonema para que comparecêssemos ao Fórum com urgência. Tratei de avisar meu marido, enviando-lhe uma mensagem por celular. Meu íntimo, honestamente, dizia que era para conhecermos o(a) nosso(a) filho(a). Quando chegamos e fomos comunicados da possibilidade de sermos pais, efetivamente, comecei a tremer. Mil coisas passavam pela minha cabeça na velocidade da luz: quem era, como seria fisicamente, qual a idade, será que gostaria de nós. A foto me “derrubou”. Aliás, as fotos me derrubaram! Eram duas crianças, dois bebês de 7 meses. Era muito mais do que imaginávamos, pois o sonho de fazer da adoção algo o mais parecido possível com a maternidade/paternidade parecia ter ficado distante. Eles eram perfeitos, lindos, gordinhos, com carinha de saúde Deram-nos a oportunidade de escolher novos nomes. Foi um pouco difícil, pois sempre pensamos em nomes de menino e menina. Após alguns minutos, decidimos por João Guilherme – a cara do Marcius – e Pedro Henrique – cara de danadinho. Confesso que sou doida por nomes compostos. As informações sobre a mãe “biológica” e condições de nascimento me deixaram aliviada. Não havia grandes motivos para preocupações. Choramos Eu e meu marido. Tudo aquilo era real! Contudo, teríamos 24 horas para uma grande mudança. Precisávamos preparar a casa, comprar roupinhas e, nossa, era muita coisa! Depois da correria, voltamos ao Fórum no dia seguinte. Nossos filhos foram levados até a sala do Dr. Sérgio.
Estavam lindos, vestidos com as roupinhas que escolhemos com todo carinho. O João foi para os braços do pai e Eu fiquei com o Pedro. Naquela hora, surreal, meu coração parecia explodir. Era pura emoção. Felicidade! Trouxemos nossos filhos pra casa. No caminho, não sabia se prestava atenção ao trânsito ou se olhava para eles. Quando chegamos em casa, fomos para o quarto deles. Em seguida, mostramos o restante da casa e apresentamos nossas filhinhas cachorras, Sophia, Pititica e Tequila. Lemos toda a documentação que nos foi entregue. Não dormi naquela noite! Eu me levantava para ir aos berços e verificar se realmente havia bebês neles. Foi um Carnaval de muito samba nessa casa. Tentamos conhecer as manias e dengos das ferinhas e estabelecer horários. O telefone não parou de tocar. Familiares e amigos queriam/querem saber tudo! Meu sogro exigia fotos de todos os momentos! Com o passar dos dias, tudo começou a ficar mais facilmente controlável. Já fomos ao Pediatra, à casa de amigos e ao shopping. Hoje já reconheço os choros e eles pedem por mim, me olhando e esticando aqueles bracinhos gordinhos. Minha vida não é a mesma e Eu não a imagino sem eles.
A volta do mercado tem que ser em ritmo acelerado, pois preciso vê-los. Passeio com eles de carrinho de manhã e no final da tarde. Tais momentos são relaxantes para nós três. Acho o máximo quando dizem que meus filhos são lindos. Minha mente já percorre o futuro deles – escola, profissão, aptidões esportivas, namoradas. Entretanto, quero mesmo é curtir um dia após o outro. (a) L S S. Cascavel, 11 de março de 2012.